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terça-feira, 10 de julho de 2018

RECUSA

Eu me recuso a me visualizar sem território. Eu abomino a ideia de me pensar enquanto habitante de um não-lugar. Eu não estou fora. Habito a periferia, e por isso constituo-me dentro deste hetero-cistema racionalizado. Estou entre-lugares. Sendo assim, corro e descanso, também, entre vocês. Sou cidadã de uma civilização subalternizada. Sou membro de uma sociedade que foi desmantelada. Estou em um eterno exílio ocidental, pois meu corpo não se adaptou à humanidade ariana. E mesmo que tenta-se, nunca seria reconhecido como tal. Não sou branca, nunca me deixaram ter duvidas disso. E não reivindico esta humanidade genocida. Sou uma fronteiriça nômade: estaciono em limites para tensiona-los, usurpa-los, ultrapassa-los, destruí-los. Ando em manada. Em matilha. Em bando. Somos terroristas. Somos imigrantes em nossas próprias terras, que por ser roubadas de nós, agora nos renega, nos cospe. De onde vem esses colonizadores? E por que ainda não foram expulsos, como fazem comigo?. Integro um grupo de monstras, de bruxas, de feiticeiras, de macumbeiras, de curandeiras, de alquimistas. Somos selvagens-cientistas, inventamos e modificamos gêneros e genitais. Somos pretas-higtech, hackers anti-racistas, implantamos vírus de negritude em maquinas produzidas pela branquidade. Nossos corpos-laboratórios possuem paredes furadas por tiros trocados em guerras coloniais do século XXI; guerras essas que atualizam-se incessantemente em nosso cotidiano. É neles que experimentamos combinações de masculinidades e feminilidades contrabandeadas de países vizinhos. Somos as netas das negras escravizadas e índias infantilizadas. Somos as avós das que hoje comandam o trafico sul-americano de desejos contra-capitalístico. Somos contemporâneas do cyber-racismo. Somos a reencarnação daquelas que todos os dias são assassinadas pelo Estado de exceção.

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