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terça-feira, 26 de junho de 2018

Santinhos, da Série "para dores, cansaços e esgotamentos"

Santinhos, da série  "para dores, cansaços e esgotamentos"
2018

6 peças
dimensões: 12cm x 8cm , frente e verso



Criei um conjunto de mandingas e medicamentos, para amenizar dores de corpos violentados pelo racismo. Silenciamentos, apagamentos, sequestros, perdas, genocídios. O adoecimento é uma experiência psíquica-corpórea. A saúde dos violentados, demanda modos de cura que estejam atentos para pontos específicos de nossos corpos, pois as dores da alma são sentidas na pele, carne e osso. silenciamentos fazem a garganta doer. Em nossos gestos, há pensamentos. E o pensamento, se produz no movimento do corpo. Sob orientação de uma benzedeira negra, utilizei do passado para compreender o presente e produzir temporalidades e corporeidades mais saudáveis.


Os Santinhos são distribuídos gratuitamente durante a  performance "Plantas que curam". Uma estratégia para catalizar autonomias em sujeito adoecidos, afim de produzirem para si novos modos de se perceber e consequentemente criarem outras mandingas e medicamentos para suas dores, cansaços e esgotamentos. 














registro da performance "Plantas que curam", realizada na Pracinha do Itararé 

performance " Plantas que curam" / Pracinha do Itararé



performance " Plantas que curam" 

2018



Monto uma barraca com medicamentos e mandingas que criei, sob supervisão da benzendeira Yasmim Ferreira. E durante algumas horas, convido pessoas a conversarem comigo sobre suas dores, cansaços e silenciamentos. 



Ao dizerem sobre suas dores, ofereço alguma dessas 6 receitas que criamos. Distribuo os Santinhos, que instrumentalizam o leitor a produzir seu próprio medicamento. E também ofereço nossos sabonetes, xarope ou massagens com a pomada de arnica hortelã e óleo de girassol.



A performance "Plantas que curam", é uma pesquisa intervenção sobre processos de adoecimento e de produção de saúde para corpos negros. É uma aposta na cura. No tempo. Na natureza. No corpo. 




registros da ação de 3h, realizada na Pracinha do Itararé. 23 de junho de 2018











domingo, 10 de junho de 2018

pele é pensamento


2018
 molde de todo meu corpo, feito com latex
1,69cm









cartografando minha estratégia poética: arte e espiritualidade

Para me fazer entender, começo esta narrativa estabelecendo uma diferença entre "espiritualidade" e "religiosidade". Compreendo religiosidade como as complexas práticas ritualistas que constituem o fazer de cada religião, que são composta suor, gestos, olhares, gritos, silêncios, itens indumentários, objetos, orações, preces, ladainhas, músicas, instrumentos musicais e demais itens e comportamentos que a religião deposita importância e significado. Tais ritualistas são executadas em arquiteturas diversas, desde de no meio do mato quanto em praça pública. O design do interior dos espaços religiosos institucionalizados, obviamente, também são diversos; igrejas católicas são diferente de um terreiro de candomblé que é diferente de uma casa de umbanda. Em complemento à esta concepção, digo que a espiritualidade é o modo singular de acessar e de (se) produzir  (em) afeções dentro dessas configurações religiosas. Ou seja, espiritualidade fala daquilo que a pessoa sente e compreende em relação à religião. 

Bem, durante os últimos meses experiencie situações intensas com o candomblé e a umbanda, que influenciaram de modo profundo minha produção em arte. Demorei um tempo (e ainda estou nesta temporalidade) para consegui compreender os diálogos que eu estava e estou desenvolvendo entre religiosidade e arte. Minhas aproximações com tais religiões, me conduziram à criar obras de arte  com referência direta à elementos candomblecistas e umbandistas. Eram tão explícitos à mim, ao ponto de me fazerem me questionar sobre algumas performances que tenho pensado e outras que já executei, por exemplo a "COMO SE PREPARAR PARA A GUERRA" e a "Benzimento", realizada junto com a minha amiga Yasmim Ferreira, que é benzedeira e me ajudou a criar minhas mandingas

-A categoria performance da conta de dizer sobre toda a complexidade experienciada no ato à qual ela se referência?" 
-Sou artista, sou performer, mas durante algumas ações, meu corpo parece escapar dessas categorias, e consequentemente a própria ação se desloca.... para onde? é possível nomear este lugar?
-Como criar uma palavra tão hibrida e complexa quanto a ação? 
-o que é performance?
-o que tenho feito de fato? é performance, mas pode ser outra coisa?
- o que esta performance tem sido em mim? 

De todas esses e outros questionamentos, talvez o ultimo que consegui nomear seja aquele que mais me esclarece sobre o processo de subjetivação que venho experienciando há quase um ano. As performances que dialogam com religiosidades de matrizes africanas, tem sido tão intensas à mim pois minha espiritualidade tem a cada dia cuidadosamente alimentado meu corpo de muita potencia de vida. É um processo composto por inseguranças, duvidas, medo, desejo de se ritualizar, prazer em esta em rituais, deleites, acolhida, felicidades e outros afetos que talvez eu não saiba muito bem nomear. 

O que faço é performance, é arte. Há uma construção imagética, crio metodologias, escolho suporte e demais elementos que sujo necessários para a execução daquele trabalho. Durante as ações que nomeie acima, existiram momentos reterritorialização de meu corpo, tão intensos que me fizeram questionar até tais trabalhos sobreviviam na categoria arte. Bem, hoje escrevo voltando de uma gira de umbanda, um terreiro localizado no alto de uma favela de Vitória, e que tem como mãe de santo a Matilde de Oya. 

De modo racional, sei que existe uma diferença entre performances ritualísticas e rituais religiosos, contudo demorei um tempo para perceber no afeto e  sensação tais limites, justamente por algumas experiências de arte me produzirem sensações similares com aquelas que sinto no terreiro. Similares, e não iguais. Hoje, ainda aposto em estudos sobre outros modos de falar sobre meu trabalho, mas também não abdico da categoria performer muito menos a da artista. Pois, tenho aprendido que a função a arte é justamente incendiar de vida o corpo do artista e daquele que o assiste e participa de sua ação. 

Há duvidas em mim que ainda quero continuar tentando responder, outras ja respondi, outras desisti e talvez as revisite em outro momento. E, penso que atualmente o que posso afirmar com firmeza e confiança é que a arte deve ser quente, barulhenta, silenciosa, e acolhedora como um ilê.