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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Cartografando minha estratégia poética. 1



Decidi acompanhar os movimentos de exteriorização de meus desejos, que são feitos através da minha produção artística. Tenho tomado cuidado para não cair no erro de estacionar em tentativas de encontrar suas origens. Claro, muito me importa investigar quais foram as primeiras relações que me orientaram a seguir este trajeto que ainda esta em construção, desenvolvimento. Mas, antes de tudo, desejo com todas as vibrações do meu corpo, mergulhar nas intensidades do meu tempo atual. Desejo devorar os elementos que estão aparecendo, modificando-se e desaparecendo sobe minha corporeidade. Devora-los, sentir seus sabores, digeri-los e liberar aquilo que não mais ajuda-me a me corporificar. Sendo assim, desvio minha visão para um ponto qualquer, que a faz ficar embaçada, tudo isso sem perceber na maioria das vezes, e começo a pensar sobre essas estrategias poéticas que tenho desenvolvido.

Noto que enquanto crio me desloco para outra temporalidade e território, e também, consequentemente, assumo uma outra identidade. Enquanto crio, me vejo parte de uma mata selvagem, sozinha, tentando construir próteses capazes de prolongar minha vida naquele ambiente. Essas próteses são feitas com materiais já presentes ali naquele espaço: galhos, folhas, flores, roupas velhas, alguns equipamentos de artesanato e ultimas linhas trazidas de um mundo urbano que outrora fora habitado por mim.

Entretanto, cada vez mais tenho me imaginado como uma criatura natural desta mata. Uma criatura selvagem, esperta, forte, e também sentimental. Uma criatura hibrida de humanidade e barbarismo. Constituída por pele humana onde crescem gramas ao invés de pelos, flores no lugar de seu cabelo, e madeira que substituem unhas. Tenho cor de terra, sou feita de barro. Mas não dissolvo quando chove, pelo contrario, me hidrato, me fortaleço. Apenas água circula dentro do meu corpo. E, quando entro em rios e cachoeiras, desapareço.
Contudo, ha algum tempo venho me perguntando se essa identidade está presente apenas nesses momentos de criação, ou se a assumo em outras ocasiões. Tiro minha roupa, fico nua de frente ao espelho, e consigo visualizar uma criatura hibrida. Hibrida gêneros. A binaridade é diluída e me perco. Me perco olhando meu corpo pelado, pois começo a visualizar, também, as possibilidades de experimentações que poderiam ser efetivadas com ele e sobre ele. E estão sendo.

Enxergo a natureza selvagem como canal de expressão de minhas intensidades. Entendo ela como um sistema organizado e imprevisível, que legitima-se por si só. Ela é um corpo que se modifica a todo momento, desenvolvendo, consequentemente, outros modelos de vida e sobrevivência.

Aproprio-me dessa dinâmica para me expressar artisticamente, mas, em contra partida, pergunto-me ate onde eu não sou constituída por ela. Meu território existencial está em constante mudança, desenvolve relações com a linguagem e com o gênero anteriormente não pensadas. Me assusto, tenho medo, me vejo perdida naquela floresta selvagem. Mas ao mesmo tempo me excito, desejo estes desejos, desejo estar perdida, desterritorializada. Desejo está foragida, camuflada com a ajuda de próteses construídas por mim mesma. Acoplada em especies orgânicas que ainda não foram catalogadas.

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